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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

RELATO DE UM REFUGIADO QUE TENTOU ATRAVESSAR A NADO DA TURQUIA À GRÉCIA

Fazia quase sete horas que Sinan Nabir nadava no mar Egeu, da Turquia à Grécia, debaixo de um céu sem nuvens e um calor de 33 graus, quando dois barcos da guarda costeira - um turco, outro grego - se aproximaram para detê-lo.

"Os turcos me seguiram por uns trezentos metros. Queriam me levar de volta a Bodrum. Eu disse: 'eu me afogo, mas não volto'. Preferia morrer ali mesmo", lembra o franzino refugiado sírio de 51 anos, um dia depois de chegar à ilha grega de Kos, porta de entrada para as milhares de pessoas que, como ele, estão buscando uma vida segura na União Europeia.

Originário de Damasco, Nabir abandonou a Síria há dois anos, depois de que uma bomba lançada pelo Exército do presidente Bashar Al-Assad destruiu parte do bairro onde vivia, na periferia.
Instalou-se em Sharm el-Sheikh, um dos principais destinos turísticos do Egito, no Mar Vermelho, mas ações extremistas creditados ao grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI) na região o convenceram a emigrar outra vez.

"Sim, tive medo. Mas pensei: se eu morrer, eu morro. Que diferença faz morrer lá (na Síria ou no Egito) e morrer no mar? Que seja o que Deus quiser. Eu quero viver, mas pra isso preciso chegar à Europa. Tenho 51 anos, não tenho filhos, não tenho nada a perder", diz à BBC Brasil, recordando a jornada em alto-mar.

"Hoje é meu primeiro dia de vida. Antes eu estava morrendo."

A distância de Bodrum a Kos pelo mar é de cerca de 22 km - para efeito de comparação, a parte mais estreita da travessia entre Inglaterra e França pelo canal da Mancha tem 33 km.
As patrulhas da Grécia e da Turquia discutiram durante alguns minutos sobre a quem cabia a responsabilidade sobre o estranho nadador encontrado a meio caminho entre os dois países, até que os oficiais gregos aceitaram que Nabir subisse a bordo e o levaram a Kos.
Fraco e desidratado, o homem foi registrado pelas autoridades e conduzido ao hospital local, mas não precisou receber tratamento e, duas horas mais tarde, ao cair da noite, se juntou às centenas de refugiados que dormem nas ruas da ilha grega.

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