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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

CARTOGRAFIA E OS SEUS FUNDAMENTOS

  • Situar-se no espaço geográfico sempre foi uma preocupação dos grupos humanos. Nos primórdios, isso acontecia em virtude da necessidade de se deslocar para encontrar abrigo e alimentos. 
  • Com o passar do tempo, as sociedades se tornaram mais complexas e surgiram muitas outras necessidades.
  • Segundo a Associação Cartográfica Internacional (ACI), em definição estabelecida em 1966 e ratificada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no mesmo ano:
    • "A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização".

FORMAS DE ORIENTAÇÃO
  • O ser humano sempre necessitou de referências para se orientar no espaço geográfico: 
    • Um rio, um morro, uma igreja, um edifício, à direita, à esquerda, acima, abaixo, etc.
  • Também por muito tempo se orientou pelo Sol e pelas estrelas. Mas, para ter referências um pouco mais precisas, inventou os pontos cardeais e colaterais.
  • Observe a imagem da Rosa-dos-ventos.
    • São pontos cardeais:
      • N - Norte;
      • E - Leste;
      • S - Sul;
      • W - Oeste.
    • São pontos colaterais:
      • NE - Nordeste;
      • SE - Sudeste;
      • SW - Sudoeste;
      • NW - Noroeste.
  • A rosa-dos-ventos possibilita encontrar a direção de qualquer ponto da linha do horizonte (numa abrangência de 360º).
  • O nome foi criado no século XV por navegadores do mar Mediterrâneo em associação aos ventos que impulsionavam suas embarcações.
  • A rosa-dos-ventos indica os pontos cardeais e colaterais e aparece no mostrador da bússola, que tem uma agulha sempre apontado para o norte magnético.
  • O uso da bússola associada à rosa-dos-ventos permite encontrar rumos em mapas, desde que ambos estejam com direção norte apontada corretamente. Assim, o usuário pode encontrar os outros pontos cardeais e colaterais, orientando-se no espaço geográfico.
  • A bússola foi inventada pelos chineses provavelmente no século I, porém só foi utilizada no século XIII em embarcações venezianas. A partir do século XV, foi fundamental para orientar os marinheiros nas Grandes Navegações.
  • Podemos perceber que quando uma pessoa está perdida num lugar, costuma-se dizer que ela está "desnorteada", ou seja, perdeu o norte ou "desorientada", ou seja, perdeu o oriente.
  • Atualmente, com o avanço tecnológico, é muito mais preciso se orientar pelo GPS.
ORIENTAÇÃO PELO SOL
  • Um dos aspectos mais importantes para a utilização eficaz e satisfatória de um mapa diz respeito ao sistema de orientação empregado por ele.
  • O verbo orientar está relacionado com a busca do oriente, palavra de origem latina que significa "nascente". Assim, o "nascer" do sol, nessa posição, relaciona-se à direção (ou sentido) leste, ou seja, ao Oriente.
  • Possivelmente, o emprego dessa convenção está ligado a um dos mais antigos métodos de orientação conhecidos. Esse método se baseia em estendermos nossa mão direita (braço direito) na direção do nascer do sol, apontando, assim, para a direção leste ou oriental; o braço esquerdo esticado, consequentemente, se prolongará na direção oposta, oeste ou ocidental; e a nossa frente estará voltada para o norte, na direção setentrional ou boreal. Finalmente, as costas indicarão a direção do sul, meridional, ou ainda, austral.
  • A representação dos pontos cardeais se faz por leste (E - east/L - leste); oeste (W - west/O - oeste); norte (N) e sul (S). 
  • ATENÇÃO:
    • Deve-se tomar cuidado ao fazer uso dessa maneira de representação, já que, dependendo da posição latitudinal do observador, nem sempre o sol estará exatamente na direção leste.
FUSOS HORÁRIOS
  • Em razão do movimento de rotação da Terra, em um mesmo momento, diferentes pontos longitudinais da superfície do planeta têm horários diversos.
  • Desde que foi criada uma forma de marcar o tempo, inicialmente com o relógio de sol, cada localidade adotava seu próprio horário. Com a invenção do relógio mecânico e o gradativo ganho de precisão, lugares muito próximos em termo de longitude chegavam a apresentar diferenças de minutos em seus horários.
  • No século XIX, com o desenvolvimento do transporte ferroviário e o consequente aumento da circulação de pessoas e mercadorias, essas pequenas diferenças de horários entre localidades muito próximas começaram a causar grandes transtornos. Para resolver esse problema, em um encontro da Sociedade Geodésica Internacional, realizado em 1883 em Roma (Itália), foi decidida a criação de um sistema internacional de marcação do tempo.
  • Para isso, foram definidos os fusos horários. Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24 horas de duração aproximada do movimento de rotação, resultam 15 graus.
  • Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se um hora, e cada uma dessas 24 divisões recebe o nome de Fuso Horário.
  • Em 1824, 25 países se reuniram na Conferência Internacional do Meridiano, realizada em Washington (EUA). Nesse encontro ficou decidido que as localidades situadas num mesmo fuso adotariam um único horário. Foi também acordado pela maioria dos delegados dos países participantes que o meridiano que passa por Greenwich seria a linha de referência para definir as longitudes e acertar os relógios em todo o planeta.
  • Para estabelecer os fusos horários, definiu-se o seguinte procedimento:
    • O fuso de referência se estende de 7º30' para leste a 7º30' para oeste do Meridiano de Greenwich, o que totaliza uma faixa de 15 graus.
  • Portanto, a longitude na qual termina o fuso seguinte a leste é 22º30'E (e, para o fuso correspondente a oeste, é 22º30'W). Somando continuadamente 15º a essas longitudes, obteremos os limites teóricos dos demais fusos do planeta.
  • As horas mudam, uma a uma, à medida que passamos de um fuso a outro. No entanto, como as linhas que os delimitam atravessam várias unidades político-administrativas, os países fizeram adaptação estabelecendo, assim, os limites práticos dos fusos.
  • Nesses casos, os limites dos fusos coincidem com os limites políticos-administrativos, na tentativa de manter, na medida do possível, um horário unificado num determinado território. A China, por exemplo, apesar de ser cortada por três fusos teóricos, adotou apenas um horário (+8 UTC) para todo seu território.
  • Alguns poucos países utilizam um horário intermediário, como a Índia, que adota um fuso de +5h30min em relação a Greenwich.
  • Observe abaixo o mapa-múndi com os fusos horários.
  • Com a adoção dos limites práticos, em alguns territórios os fusos podem medir mais ou menos que os tradicionais 15º, como se pode verificar no mapa acima.
  • Observe que as horas aumentam para leste e diminuem para oeste, a partir de qualquer referencial adotado. Isso ocorre porque a Terra gira do oeste para o leste. Como o sol nasce a leste, à medida que nos deslocamos nessa direção, estamos indo para um local onde o sol nasce antes e, portanto, as horas estão "adiantadas" em relação ao local de onde partimos. Quando nos deslocamos para oeste, entretanto, estamos nos dirigindo a um local onde o sol nasce mais tarde, e, portanto, as horas estão "atrasadas" em relação ao nosso ponto de partida.
  • Além da mudança das horas, tornou-se necessário definir um meridiano para a mudança da data no mundo. Na Conferência de 1884, ficou estabelecido que o meridiano 180º, conhecido como antimeridiano, seria a Linha Internacional de Data (ou simplesmente Linha de Data). 
  • O fuso horário que tem essa linha como meridiano central tem uma única hora, como todos os outros, entretanto em dois dias diferentes. A metade situada a oeste dessa linha estará sempre um dia adiante em relação à metade a leste. Com isso, ao se atravessar a Linha de Data indo do leste para o oeste é necessário aumentar um dia.
    • Por exemplo: Numa hipotética viagem de São Paulo (Brasil) para Tokyo (Japão) via Los Angeles (EUA), um avião entrou no fuso horário da Linha de Data às 10 horas de um domingo. Imediatamente após cruzar essa linha, ainda no mesmo fuso, continuarão sendo 10 horas, mas do dia seguinte, uma segunda-feira.
    • Já na viagem de volta ocorrerá o contrário, pois essa será do oeste para o leste, e quando o avião cruzar a Linha de Data deve-se diminuir um dia.
  • Esse exemplo pode causar estranheza, já que estamos acostumados a observar, no planisfério centrado em Greenwich, o Japão situado a leste, mas como o planeta é esférico, podemos ir a esse país voando para o oeste.
  • Como observamos no mapa de fusos horários, a partir do meridiano de Greenwich, as horas vão aumentando para o leste e diminuindo para o oeste. Entretanto, diferentemente do que muitas vezes se pensa, ao atravessar a Linha de Data indo para o leste deve-se diminuir um dia e, ao contrário, indo para o oeste, aumentar um dia.
  • Assim como os meridianos que definem os fusos horários civis, a Linha Internacional de Mudança de Data também adota limites práticos, caso contrário alguns países-arquipélago do Pacífico, como Kiribati, teriam dois dias diferentes em seus territórios. Na metade do fuso localizada a leste da Linha Internacional de Mudança de Data é domingo e na metade a oeste, segunda-feira.
  • Perceba que a referência aqui considerada foi a Linha de Data, assim a metade do fuso situada a leste dela está a oeste em relação a Greenwich (portanto, no hemisfério ocidental), e a outra metade, situada a oeste dela, está a leste do meridiano principal (no hemisfério oriental).
    • Lembre-se: A definição dos pontos cardeais (e colaterais) depende sempre de um referencial.
FUSOS HORÁRIOS BRASILEIROS
  • No Brasil, até 1913 as cidades tinham sua própria hora. Por exemplo, segundo o Observatório Nacional, "quando na capital federal, atual cidade do Rio de Janeiro, eram 12 horas, em Recife eram 12h33' e em Porto Alegre eram 11h28'.
  • Com o desenvolvimento dos transportes isso começou a provocar muita confusão, tornando-se necessária a adoção de fusos horários.
  • Em 18 de junho de 1913, o então presidente Hermes da Fonseca sancionou um Decreto nº 2784 criando quatro fusos horários no país, situação que perdurou ate 2008.
  • Apesar da adoção do fuso horário prático, dois estados brasileiros extensos, Pará e Amazonas, permanecem "cortados ao meio".
  • Em 24 de abril de 2008, foi aprovada uma lei (Lei nº 11.662) que eliminou o antigo fuso de -5 UTC e reduziu a quantidade de fusos horários brasileiros para três.
  • A sudoeste do Estado do Amazonas e todo o Estado do Acre, que antes estavam no fuso -5 UTC, foram incorporados ao fuso -4 UTC. O Estado do Pará deixou de ter dois fusos horários e seu território ficou inteiramente no fuso de -3 UTC em relação a Greenwich.
  • No entanto, grande parte da população do Acre não ficou satisfeita com a mudança, pois causava transtornos em seu dia a dia.
    • Por exemplo: De manhã, muitos estudantes e trabalhadores saíam de casa com o céu ainda escuro. Por isso, num plebiscito realizado em 31 de outubro de 2010, mesmo dia em que se votou nas eleições presidenciais, a maioria da população decidiu pela volta do antigo fuso.
  • O eleitor acriano respondeu à seguinte pergunta:
"Você é a favor da recente alteração do horário legal promovida nesse Estado?" 

    • Do total de eleitores, 56,9% responderam "não", e com isso abriu-se a possibilidade de tramitação de uma nova lei no Congresso Nacional, regulamentando o desejo da maioria da população do Acre. Em 30 de outubro de 2013, foi aprovada a Lei nº 12.876, que revogou a legislação de 2008 e reintroduziu o fuso -5 UTC (essa mudança entrou em vigor em 10 de novembro de 2013).
  • Observe o mapa abaixo:
     
  • Podemos observar no mapa que o Estado do Acre e o sudoeste do Estado do Amazonas voltaram a fazer parte do quarto fuso brasileiro (-5 UTC e -2 UTC em relação ao horário de Brasília, diferença que aumentava para 3 horas quando o horário de verão estava em vigor).
  • ATENÇÃO:
    • O atual presidente Jair Bolsonaro assinou, no dia 25 de abril de 2019, o Decreto que acaba com o horário de verão no Brasil. A justificativa foi que o fim do período aumentaria a produtividade do trabalhador.
    • No mapa pode-se observar que não houve mudança com o Estado do Pará, que permanece inteiramente no segundo fuso brasileiro (-3 UTC).
    • Quando o horário de verão ainda estava em vigência, a hora oficial do país se igualava ao horário do nosso primeiro fuso, e o horário dos Estado do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que estão no terceiro fuso, igualava-se ao horário do Pará e dos Estados da região Nordeste, localizados no segundo fuso.
    • O fuso -2 UTC (em relação a Greenwich) é exclusivo de ilhas oceânicas. O fuso -3 UTC corresponde ao horário de Brasília, a Hora Oficial do Brasil. O limite entre os fusos -4 e -5 UTC é uma linha imaginária que se alonga do município de Tabatinga, no Estado do Amazonas, até o município de Porto Acre, no Estado do Acre. 
Este tema também está disponível em duas mini-aulas sobre a Cartografia e os Paralelos e Meridianos.

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