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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

EFEITO BOLSONARO NA AMÉRICA LATINA

Com a vitória de Jair Bolsonaro, o Brasil integra oficialmente a guinada à direita vista nos últimos anos na América do Sul. Parte do crescimento mundial do conservadorismo e do populismo, o movimento pode alcançar mais países da região.

Mas, à diferença do que se viu na campanha aqui, é pouco provável que candidatos nas nações vizinhas incorporem o discurso radical que caracteriza a "direita à brasileira" promovida por Bolsonaro, afirmam os estudiosos.

Para os especialistas em política latino-americana, a onda conservadora no Brasil tem raízes no descontentamento contra o sistema político que, para muitos, perdeu representatividade e só age em benefício próprio - algo visto, em maior ou menor intensidade nos países vizinhos. Esse efeito poderá ser sentido em 2019, com as eleições na Argentina, Bolívia e Uruguai.

"Se ele fosse basicamente um conservador, seria algo comum no continente nos últimos anos", diz Paulo Velasco, cientista político da UERJ, se referindo ao chileno Sebastian Piñera e ao colombiano Ivan Duque, eleitos neste ano.

Mas, apesar das agendas econômicas similares, o tom dos discursos vistos aqui deve ter pouca acolhida entre os vizinhos.

"Mauricio Macri e Piñera respeitam o sistema democrático, e nenhum deles disse, nem mesmo em campanha, as coisas que Bolsonaro tem falado contra a homossexualidade, porte livre de armas, contra a ONU ou duvidando da mudança climática. No Chile e na Argentina, defender coisas tão extremas resultaria em perda de apoio, e não na possibilidade de ganhar uma eleição".

É normal que os governos mudem da centro-esquerda para a centro-direita e vice-versa, mas Bolsonaro representa uma extrema-direita, por sua defesa da tortura, de execuções extrajudiciais, misoginia e outras posições incompatíveis com o imaginário democrático.

Isso porque, nas outras nações do Cone Sul, houve um trabalho mais competente em termos de memória histórica e repele-se muito fortemente a era da ditadura militar. Um candidato com o discurso de Bolsonaro, de louvar os torturadores, dizer que não houve ditadura, não teria espaço na Argentina, no Chile ou no Uruguai.

A repercussão negativa desse tipo de discurso pode impor empecilhos na integração com os demais líderes.

Para os governos democráticos de centro-direita, como Macri na Argentina e Piñera no Chile, existe o dilema de não se identificar com um presidente de extrema-direita com o qual eles estão interessados em manter boas relações, principalmente comerciais.

Fonte: UOL Notícias



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