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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

BOLSONARO SERIA ELEITO NA ARGENTINA?

Na Argentina, a maior parte da opinião pública a ditadura militar do país, que durou de 1976 a 1983, deixou 30 mil mortos e desaparecidos, além dos relatos de tortura e de bebês sequestrados pelo regime e adotados ilegalmente por outras famílias.

Em 2016, uma pesquisa do instituto Ibarómetro apontou que 80,2% dos argentinos tinham "sentimentos negativos" em relação ao golpe de Estado de 1976 e 67,6% diziam que os julgamentos eram importantes.

Essa reprovação ao passado militar, torna pouco possível a chegada na Casa Rosada de um presidente com discursos no "estilo Bolsonaro".


A rejeição dos argentinos à ditadura é explicada por uma série de razões. Entre elas, o papel da Comissão da Verdade no país e o julgamento de militares da ditadura logo na retomada da democracia, além de iniciativas para denunciar crimes cometidos pelo regime.

Na Argentina, os candidatos não utilizam afinidade ou apoio as Forças Armadas como elemento central do discurso político. Isso não quer dizer que muita gente no Senado ou na Câmara não tenha cumplicidades, interesses comuns ou convicções ideológicas próximas, mas há um certo cuidado.

Fonte: UOL Notícias

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

POLARIZAÇÃO POLÍTICA NA POLÔNIA SE ASSEMELHA AO BRASIL

Apesar dos mais de 10 mil quilômetros de distância e das muitas diferenças que separam brasileiros e poloneses, as duas sociedades vivem debates políticos parecidos como: rejeição à esquerda, discussão sobre livre mercado, renovação política, separação de religião e Estado e acolhimento a imigrantes são alguns exemplos.

Com 38 milhões de habitantes, a Polônia anunciou na última semana o resultado das eleições regionais, que consagraram a expansão do polêmico PiS (Lei e Justiça), partido conservador de direita. 


No governo desde 2015, a agremiação tem grande apelo popular, mas é alvo de críticas por parte da União Europeia e de observadores internacionais, que apontam algumas medidas antidemocráticas do governo.

A diferença do Brasil, porém, na Polônia discursos extremos são menos bem recebidos.

"Na Europa, Bolsonaro seria chamado de neonazista, dados seu histórico militar e suas declarações homofóbicas e de apologia da tortura", de acordo com o Instituto de Estudos Americanos da Universidade Jaguelônica, em Cracóvia, na Polônia.

Fonte: UOL Noticías

terça-feira, 30 de outubro de 2018

BOLSONARO SERIA O TRUMP DO SUL?

O récem-eleito presidente da República, Jair Bolsonaro, recebeu o apelido de "Trump dos trópicos" porém a Casa Branca deixou claro que só existe um Trump no mundo.

"Há apenas um Donald Trump, na minha opinião", declarou a porta-voz do presidente, Sarah Sanders, ao ser questionada em entrevista coletiva sobre essa comparação.

Em meados de outubro, Bolsonaro alimentou esse paralelo com o presidente americano, com quem compartilha um gosto especial pelas declarações provocadoras e reações instintivas.

"Eu sou um admirador do presidente Trump. Ele quer a América grande, eu quero o Brasil grande", afirmou Bolsonaro em sua primeira entrevista coletiva após vencer o primeiro turno das eleições gerais. E destacou a sua visão sobre imigração, contrária às fronteiras abertas, aproximando-se do presidente dos EUA.

Donald Trump, magnata imobiliário que não tinha experiência política quando foi eleito para a Casa Branca, em novembro de 2016, está longe do caso de Bolsonaro, capitão da reserva do Exército e deputado federal há 27 anos.

Mas o certo é que tanto Trump quanto Bolsonaro têm pontos em comum: os dois chamaram a atenção por sua retórica polêmica e muitas vezes agressiva, foram acusados de misóginos e racistas, são inimigos da imprensa tradicional e souberam aproveitar as redes sociais como poucos.

Fonte: APF/UOL Notícias




segunda-feira, 29 de outubro de 2018

EFEITO BOLSONARO NA AMÉRICA LATINA

Com a vitória de Jair Bolsonaro, o Brasil integra oficialmente a guinada à direita vista nos últimos anos na América do Sul. Parte do crescimento mundial do conservadorismo e do populismo, o movimento pode alcançar mais países da região.

Mas, à diferença do que se viu na campanha aqui, é pouco provável que candidatos nas nações vizinhas incorporem o discurso radical que caracteriza a "direita à brasileira" promovida por Bolsonaro, afirmam os estudiosos.

Para os especialistas em política latino-americana, a onda conservadora no Brasil tem raízes no descontentamento contra o sistema político que, para muitos, perdeu representatividade e só age em benefício próprio - algo visto, em maior ou menor intensidade nos países vizinhos. Esse efeito poderá ser sentido em 2019, com as eleições na Argentina, Bolívia e Uruguai.

"Se ele fosse basicamente um conservador, seria algo comum no continente nos últimos anos", diz Paulo Velasco, cientista político da UERJ, se referindo ao chileno Sebastian Piñera e ao colombiano Ivan Duque, eleitos neste ano.

Mas, apesar das agendas econômicas similares, o tom dos discursos vistos aqui deve ter pouca acolhida entre os vizinhos.

"Mauricio Macri e Piñera respeitam o sistema democrático, e nenhum deles disse, nem mesmo em campanha, as coisas que Bolsonaro tem falado contra a homossexualidade, porte livre de armas, contra a ONU ou duvidando da mudança climática. No Chile e na Argentina, defender coisas tão extremas resultaria em perda de apoio, e não na possibilidade de ganhar uma eleição".

É normal que os governos mudem da centro-esquerda para a centro-direita e vice-versa, mas Bolsonaro representa uma extrema-direita, por sua defesa da tortura, de execuções extrajudiciais, misoginia e outras posições incompatíveis com o imaginário democrático.

Isso porque, nas outras nações do Cone Sul, houve um trabalho mais competente em termos de memória histórica e repele-se muito fortemente a era da ditadura militar. Um candidato com o discurso de Bolsonaro, de louvar os torturadores, dizer que não houve ditadura, não teria espaço na Argentina, no Chile ou no Uruguai.

A repercussão negativa desse tipo de discurso pode impor empecilhos na integração com os demais líderes.

Para os governos democráticos de centro-direita, como Macri na Argentina e Piñera no Chile, existe o dilema de não se identificar com um presidente de extrema-direita com o qual eles estão interessados em manter boas relações, principalmente comerciais.

Fonte: UOL Notícias



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A DEMOCRACIA CORRE RISCO

O avanço eleitoral da extrema-direita no Brasil, que no próximo dia 28 pode se traduzir na eleição de Jair Bolsonaro como presidente da República, veio a confirmar a extensão e a profundidade dos riscos que pairam sobre a democracia parlamentar em todo o mundo. As ameaças não procedem de um extremo ideológico ou de outro, mas ambos parecem concordar em deslegitimar o sistema político em seu caminho rumo ao poder, ao mesmo tempo em que se servem dos direitos e das liberdades que o próprio sistema lhes proporciona. A América Latina não é a única região em que o fenômeno está alcançando estações de difícil retorno, em países como Venezuela, Bolívia ou Nicarágua; também na Europa as opções extremistas de todos os matizes estão passando de condicionar a agenda política às margens do sistema, como vinha ocorrendo até agora, a instalar-se solidamente em seu interior, graças a um apoio eleitoral cada vez mais amplo. Enquanto isso, Donald Trump aspira a ganhar a lealdade das forças que questionam os regimes de liberdade, Vladimir Putin manobra cada vez mais abertamente valendo-se delas para destruí-los e a China persevera em um modelo próprio.
A cautela com que se abordou nos últimos anos esse fenômeno político, cuja autêntica natureza não é segredo para ninguém, obedeciam à responsabilidade exigida de se comparecer ao debate público, posto que é estreita demais a fronteira entre dar a voz de alarme e cair no alarmismo. Mas os recentes avanços de líderes políticos que concebem a democracia como uma escala tática na realização de seus programas obrigam a dar esse passo. O horizonte que está se delineando não é o de uma proliferação de ditaduras isoladas, mas o do retorno do autoritarismo: a democracia está em perigo.
Ninguém deveria se enganar com o fato de que as alternativas que se propõem a destruí-la assegurem que seu objetivo é defendê-la. Mas, antes de tudo, não deveria confundir os grandes partidos que garantiram seu funcionamento desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Quando estes cedem à tentação eleitoreira de dizer que a democracia não sobreviverá sem dar resposta aos assuntos que inflamam o discurso dos extremistas, esquecem que o diagnóstico é exatamente o contrário. Não é que a democracia não tenha resposta para os problemas que obcecam o obscurantismo, como a nação, a identidade e a segurança, mas que os extremistas não têm resposta para a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Sem dar resposta a esses desejos não só a democracia não sobrevive, como tampouco a dignidade do ser humano.
Os extremistas de todo tipo aspiram a prosperar no terreno das pequenas políticas, ridicularizando a democracia como prisioneira das grandes palavras. Nesse ponto, porém, convém recordar-lhe que foram essas grandes palavras que derrotaram seus precursores toda vez que precipitaram o mundo na catástrofe, que permitiram reconstruir as sociedades conduzidas à ruína e que, finalmente, garantiram durante décadas um destino mais benévolo para todos.
Que ninguém duvide que as grandes políticas para as grandes palavras existem, e que nada têm a ver com as boas intenções. Aplicá-las exige de todas as forças que defendem a democracia não se deixar seduzir pelos apelos de um realismo que no fundo é só cumplicidade com seus inimigos. O extremismo quer fazer crer que democracia é escolher entre o medo que acena com uma mão e as correntes que aspira impor com a outra. Democracia é, ao contrário, recusar simultaneamente o medo e as correntes.
Fonte: El Pais

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

APOSTILA DE GEOPROCESSAMENTO PARA CONCURSOS

Olá pessoal,

Estou aqui no meu blog para divulgar o minha apostila que acabei de concluir. Quem tiver interesse em obter a apostila, entrar em contato via WhatsApp: (61) 99828-8270. Por favor, me passe o seu nome e cidade.


Quem quiser obter a apostila em PDF, o valor será via depósito na conta:
Banco do Brasil
CC: 3603-X
Agência: 21.585-6
Valor: 20,00 reais

Quem quiser a apostila impressa, o valor será de 45,00 reais na mesma conta descrita acima.






segunda-feira, 21 de maio de 2018

BRASIL NÃO RECONHECERÁ VITÓRIA DE MADURO NA VENEZUELA

Em nota emitida nesta segunda-feira (21 de maio), o governo brasileiro, juntamente com os países integrantes do Grupo de Lima, afirmou que não reconhece a legitimidade do processo eleitoral realizado pela Venezuela no domingo, deu a vitória a Nicolás Maduro para um novo mandato até 2025.

O documento afirma que os 14 países concordaram ainda em reduzir o nível das relações diplomáticas com Caracas e estabeleceu diretrizes de caráter econômico e financeiro contra Caracas.

A nota, assinada pela Argentina, Canadá, Colômbia e mais 10 países, tem um tom duro alertando para o risco da concessão de crédito ao país e anunciando medidas de monitoramento de atividades ilícitas, lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo o governo de Maduro, no poder desde 2013.

Maduro foi reeleito neste domingo com 68% dos votos, contra o opositor Henri Falcón com 21%. No entanto, o pleito teve abstenção de cerca de 54% das 20,5 milhões de pessoas registradas para votar. Falcón não reconheceu os resultados da eleição e denunciou irregularidades em postos de votação. O opositor pode um novo pleito em outubro.

Além do Grupo de Lima, EUA e União Européia afirmaram que não reconhecerão o resultado das eleições na Venezuela. Antes mesmo de sair o resultado, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, classificou as eleições presidenciais na Venezuela como "fraudulentas" e disse que a votação "não muda em nada" o cenário do país.


quarta-feira, 18 de abril de 2018

O FIM DA ERA CASTRO EM CUBA

Em 1º de janeiro de 1959, a revolução liderada por Fidel Castro, Ernesto "Che" Guevara, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos derrubaram o ditador Fulgêncio Batista, instalando o primeiro movimento comunista da América Latina em Cuba. Fidel tornou-se o ditador e só deixou o poder doente em 2006, entregando a chefia provisória para seu irmão mais novo. Agora Raúl Castro sai da presidência e o cargo não estará mais na família e o favorito para assumir o posto é um civil, Miguel Díaz-Canel, o atual vice-presidente cubano.

Díaz-Canel foi o primeiro nascido após a revolução a assumir um posto na alta cúpula do governo. Professor universitário, ele não conheceu Cuba sem o comando dos irmãos Castro. Agora, ele deve herdar um país com a economia estagnada, um embargo norte-americano de mais de cinco décadas e uma população que aguarda pela abertura econômica.

A eleição que começa nesta quarta-feira (18 de abril) é indireta. Os 605 parlamentares eleitos pela população em março vão escolher um conselho de 31 representantes da Assembleia Nacional. O conselho é quem elegerá o novo chefe do Estado cubano.


quarta-feira, 7 de março de 2018

A BATALHA SANGRENTA DE GHOUTA ORIENTAL

A região síria de Ghouta Oriental, localizada nos arredores da capital Damasco, é palco de um acirramento da guerra civil. A área está desde 2012 sob o comando de grupos rebeldes. Há cerca de um mês, o governo de Bashar al-Assad e seus aliados intensificaram ofensivas contra os territórios que estão fora de seu controle.
Ghouta Oriental sofreu vários dias consecutivos de bombardeios, que deixaram mais de 700 civis mortos. Segundo a ONU, 76% das residências foram devastadas, e grande parte dos 400 mil moradores se mudou para abrigos subterrâneos. Há restrição à entrada de ajuda humanitária.
Além disso, há suspeitas de que um ataque químico, com gás de cloro, tenha ocorrido na região. Médicos que atendem a população local disseram ter tratado pessoas com problemas respiratórios sintomáticos de exposição a essa substância após bombardeios aéreos realizados pelo governo sírio - que negou as acusações.
Diversos grupos armados estão presentes em Ghouta Oriental. Além de enfrentarem as forças do governo sírio, os rebeldes também combatem entre si. Saiba mais sobre as partes do conflito, de acordo com informações do BBC Monitoring.
OS GRUPOS REBELDES
  1. Jaysh al-Islam
    1. É o mais forte dos grupos rebeldes islâmicos atuando ali, com cerca de 10 mil recrutas, segundo a Al-Jazeera. É o principal opositor enfrentado pelas forças do governo sírio na região. Foi formado em 2011 por Zahran Alloush, que morreria em 2015 após um ataque aéreo das forças do governo atingir o local de um encontro do qual ele participava em Ghouta Oriental. 
    2. Inicialmente conhecido como Liwa al-Islam, ganhou o nome que tem hoje em 2013, após vários grupos da região se unirem sob a liderança de Alloush. 
    3. À medida que a luta com forças pró-governo diminuiu o tamanho da área dos rebeldes, o Jaysh al-Islam ficou com o controle da cidade de Douma, a maior de Ghouta Oriental.
  2. Faylaq al-Rahman
    1. O segundo maior grupo rebelde em Ghouta Oriental seria o islâmico Faylaq al-Rahman, também sob forte pressão das forças pró-governo. Segundo a Al-Jazeera, teria 9 mil membros e controlaria cerca de um terço da área sitiada. 
    2. O Faylaq al-Rahman tem uma presença forte na linha de frente de combate ao governo sírio no oeste de Ghouta. O grupo também tem uma presença estratégica no distrito de Jobar, que é considerado uma porta de entrada para a região a partir do oeste. 
    3. O grupo seria ligado à ideologia da Irmandade Muçulmana, grupo egípcio que está nas origens do fundamentalismo islâmico. 
    4. É apontado como aliado do jihadista Hayat Tahrir al-Sham, ambos contrários à presença do Jaysh al-Islam na região. 
    5. As relações entre o Faylaq al-Rahman e o Jaysh al-Islam ficaram tensas em 2016, quando surgiram as primeiras disputas internas entre os dois lados.
  3. Hayat Tahrir al-Sham
    1. Um terceiro grupo é o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), poderoso no norte da Síria e presente em diversas outras áreas rebeldes do país. 
    2. Era aliado da al-Qaeda, com quem rompeu em julho de 2016.
    3. Acredita-se que tenha cerca de 500 membros em Ghouta Oriental, principalmente no distrito de Jobar. 
    4. O governo sírio diz que suas tentativas de reconquistar a região estão diretamente relacionadas à presença do HTS no local. 
    5. O Jaysh al-Islam também travou batalhas para remover o grupo da região, em 2017. 
    6. Nos últimos meses, ocorreram negociações para evacuar militantes do HTS para o norte da Síria, sem sucesso.
  4. Ahrar al-Sham
    1. Esse quarto grupo islâmico tem presença mais expressiva no norte da Síria, mas fez recentemente uma grande ofensiva em uma cidade de Ghouta Oriental chamada Harasta. 
    2. Hoje, controla parte do território. Nessa ação, foi apoiado pelo Faylaq al-Rahman e pelo HTS.

sexta-feira, 2 de março de 2018

PROGRAMAS DE SEGURANÇA PÚBLICA NÃO TEM DADO NO BRASIL

A intervenção no Rio de Janeiro é inédita. Nunca antes um governador perdeu as rédeas do comando da segurança do seu Estado para o governo federal. Por outro lado, essa é a sétima tentativa de um presidente da República de conter a violência no país desde 2000. Na média, houve um novo anúncio federal a cada três anos. Em 2000, Fernando Henrique Cardoso lançou o Plano Nacional de Segurança Pública, que vigorou por apenas dois anos. Já Luiz Inácio Lula da Silva lançou, em 2007, o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Além disso, tentou criar o Sistema Único da Segurança Pública - uma espécie de SUS para a área da segurança. Encaminhado para o Congresso Nacional em 2007, está em tramitação até hoje.
Dilma Rousseff não deu continuidade aos planos do seu padrinho político. Em 2012, criou o Programa Brasil Mais Seguro, e, em 2015, o Programa Nacional de Redução de Homicídios. Já Michel Temer deu início ao Plano Nacional de Segurança em 2017. E, agora, a intervenção no Rio.
O levantamento dos diferentes planos federais foi feito pelos especialistas em segurança pública Isabel Figueiredo, Renato Sérgio de Lima e Sérgio Adorno. Em comum, nenhum deles foi capaz de conter o avanço da violência no Brasil.
Um dos sinais do acirramento da crise de segurança é a guerra entre facções criminosas. Antes concentradas no Sudeste - o PCC, principalmente em São Paulo, e o Comando Vermelho, no Rio - essas organizações criminosas se multiplicaram pelo país. Em 2006, no Amazonas, foi criada a Família do Norte; em 2012, o Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte; em 2013, no Acre, o Bonde dos 13; por volta de 2015, no Ceará, os Guardiões do Estado - entre vários outros.
Além disso, regiões antes pacatas entraram no foco da violência. Entre 2000 e 2016, enquanto a taxa de homicídio do Sudeste caiu pela metade, a do Norte e Nordeste dobrou. Nas cidades menores, a quantidade de mortes violentas cresceu mais do que nas metrópoles. Na soma do país, o número de assassinatos passou de 47,9 mil para 61 mil por ano.
"A principal razão para os programas não serem efetivos é que falta um desenho claro de uma política de segurança no Brasil", afirma Isabel Figueiredo, especialista em direito constitucional e segurança, membro do Fórum de Segurança Pública.
"Veja o caso da saúde. O grosso do SUS não muda com o governo A ou governo B. Já a segurança está ao sabor da política. A consequência são as interrupções dos programas", compara.
Alberto Kopptike, que atuou na área de segurança pública durante parte dos governos Lula e Dilma, também usa o SUS como exemplo. Para criar o sistema de saúde, primeiro foi elaborado seu conceito e, depois, montada uma estrutura nacional para implementá-lo, como Ministério da Saúde, Datasus, Fundo Nacional de Saúde, Conselho Nacional de Saúde. Para Kopptike, esse mesmo processo precisaria ocorrer com a segurança pública.
"O SUS não é um programa, é a política nacional de saúde do Brasil. Já na segurança pública, foram criados apenas programas", completa Kopptike.
Segundo Figueiredo, o problema vem desde a Constituição de 1988, "que é detalhada nas áreas de saúde e educação, mas pífia com relação à segurança pública".
O trecho constitucional que trata da área apenas lista quais são as forças de segurança, estabelece qual é a função de cada uma e a quem respondem: as Polícias Militar e Civil ficam sob comando dos Estados e as Polícias Federal e Rodoviária Federal estão sob responsabilidade da União. As Forças Armadas não são um braço da segurança pública.
O Susp (Sistema Único da Segurança Pública), idealizado no governo Lula, foi uma tentativa de suprir essa lacuna, mas não avançou. Agora, o Ministério da Justiça diz que vai publicar uma política nacional - embora não dê datas. "Ela reunirá, pela primeira vez, um conjunto de princípios, diretrizes e objetivos de segurança pública a serem implementados pelos três níveis de governo de forma integrada e coordenada", disse a pasta, por nota.
Na falta de uma política de Estado para a segurança pública, os planos para a área costumam ser lançados em resposta a crises, dizem especialistas.
Foi o caso do primeiro plano de segurança, no governo FHC. Em junho de 2000, um ônibus foi sequestrado no Rio de Janeiro e uma mulher grávida foi feita refém. O resultado foi trágico: a vítima foi morta pela polícia dentro do ônibus; o sequestrador, dentro do camburão. O caso, conhecido como "ônibus 174", chocou o país. O plano federal foi lançado em seguida.
Dezoito anos depois, a intervenção federal no Rio também foi decretada na sequência de cenas de violência durante o Carnaval. No início de 2017, o governo Temer divulgou seu plano de segurança após massacres em presídios do Amazonas e Roraima, que evidenciaram a extensão da disputa das facções no país. Além disso, acredita-se que o Pronasci, de Lula, teve a influência dos ataques do PCC em São Paulo, em maio de 2006.
"Uma política de segurança pública eficiente não é um milagre. Não dá resultado imediato, mas no médio e longo prazo. Não é diferente da educação. O problema é que a crise na segurança normalmente mobiliza de tal forma a opinião pública que muitos governantes acabam indo para uma lógica de curto prazo, paliativa, midiática. Mas o importante é pensar na causa do problema, em algo sustentável", afirma Figueiredo.
"A gente precisa deixar de ser reativo, só atuando em crises, e começar a criar estrutura para mudar a forma como a gente faz segurança pública. Aí, o governo federal tem que entrar com recursos", diz Kopptike.
A maior parte dos gastos da segurança pública fica nas mãos dos Estados, que custeiam as Polícias Militar e Civil. Segundo o Anuário de Segurança Pública, o Brasil gastou R$ 81 bilhões com o setor em 2016, sendo que mais de 80% do valor veio dos cofres estaduais. Já o governo federal arcou com cerca de 10% dos gastos.
Segundo especialistas, seria preciso aprimorar o financiamento federal da segurança pública. Em primeiro lugar, a área não conta com garantia de recursos, ao contrário da saúde e da educação, por exemplo, que obtêm uma fatia determinada das receitas do país. Também difere da área penitenciária, que fica com um percentual da arrecadação das loterias.
"Não é razoável que todo o ano seja necessário brigar pelo orçamento da segurança pública. Se não há garantia orçamentária, como fazer ações que dependem de recursos no ano que vem? É muito difícil para a continuidade", diz Figueiredo.
Em tese, desde o plano de segurança pública de FHC, em 2000, o Brasil conta com um fundo específico para financiar o setor na esfera federal. É o Fundo Nacional de Segurança Pública. Porém, ele está longe de dar conta da demanda de financiamento. Em 2016, recebeu apenas R$ 313 milhões - equivalente a 0,4% dos custos totais da segurança pública brasileira ou a 5% dos custos da Polícia Federal.
"É preciso criar um pacto federativo na área de segurança pública, que defina responsabilidades e atribuições do nível federal, do nível estadual e do nível municipal, e também estabeleça padrões e formas de financiamento do setor, de forma consistente e permanente", afirma José Luiz Ratton, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que atuou em um programa de combate à violência no Estado.
"Já existe acúmulo técnico para que isso seja feito, mas sucessivas administrações do governo federal foram incapazes de construir uma agenda política de reformas nesta área, com receio de responsabilização por um tema tão sensível", conclui.
"O Brasil não tem uma coordenação de inteligência. É um quebra-cabeça de informações. Cada (órgão de segurança) tem um pedacinho para encaixar. O problema é que cada um usa a informação que tem para se valorizar", afirma José Vicente da Silva, coronel reformado da PM, que atuou no programa de segurança de FHC.
Ele dá como exemplo o Rio de Janeiro: "Como enfraquecer as facções criminosas no Rio de Janeiro? É preciso sufocar a logística de acesso a drogas, munição e arma. Para isso é preciso inteligência. Se tem articulação do governo federal com os Estados fica mais fácil identificar o fluxo que alimenta a economia do crime".
Alberto Kopptike concorda. "O PCC, por exemplo, é uma facção nacional. Está em metade dos Estados brasileiros, em outros países da América Latina. (Para enfrentá-lo), é preciso articular a inteligência da segurança pública no Brasil, (juntando informação) das forças federais e estaduais."
Três especialistas ouvidos pela BBC Brasil, de diferentes linhas políticas, disseram que a Polícia Federal precisa atuar mais no combate ao tráfico de drogas e armas. Essa é, inclusive, uma das funções da PF previstas pela Constituição.
"A gente precisa de uma Lata Jato das armas, uma Lava Jato das drogas. É legal que a PF esteja combatendo a corrupção - e tem que continuar. Mas é importante que também entre na segurança pública", afirma Kopptike.
"A cobrança por ações da PF para combater a criminalidade violenta tinha que ser mais dura. A Lava Jato é importante. Mas fora isso é preciso priorizar a criminalidade violenta", opina da Silva.
"Nos últimos anos, para bem ou para o mal, a PF fez a escolha do negócio dela: corrupção. De fato, nunca antes nesse país, a PF esteve tão focada no combate à corrupção. Por outro lado, não vemos esse mesmo esforço da força no controle das fronteiras (por onde entram armas), que é atribuição dela e acaba atingindo população", diz Figueiredo.
Cerca de um quinto das operações da Polícia Federal em 2016 foram relacionadas ao tráfico de drogas - 121 de um total de 550.
Outro ponto apontado pelos especialistas é a dificuldade de combater a corrupção policial nos Estados, área que deveria contar com a intervenção federal.
"Nenhuma polícia pode ser eficiente se for corrupta. O governo federal poderia tornar o combate à corrupção policial uma prioridade. Inclusive, enviar a PF para investigar a relação das polícias com o crime organizado", opina o coronel reformado José Vicente da Silva.
Alberto Kopptike ressalta a importância da União no combate à corrupção policial citando o exemplo da Inglaterra, que faz uma avaliação técnica das polícias. Isso poderia ser feito no Brasil, segundo ele. "Precisamos de uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal, mas de gestão das polícias."
Em 2017, por exemplo, um policial civil do departamento de narcóticos de São Paulo, o Denarc, foi acusado de roubar e vender drogas no centro da capital paulista, além de avisar traficantes da Cracolândia sobre operações que iriam acontecer na área. Ele foi pego em uma escuta telefônica conversando com um homem apontado como revendedor de drogas na região.
As polícias já têm órgãos de controle e investigação de seus quadros, como as corregedorias. Porém, críticos costumam dizer que, pela proximidade com as corporações, sua atuação não é forte o suficiente. Outro serviço de controle social são as ouvidorias - em São Paulo, por exemplo, o ouvidor é escolhido pelo governador do Estado a partir de uma lista tríplice de candidatos votados por grupos de defesa dos direitos humanos.
O sistema prisional superlotado é um caldo propício para o surgimento e crescimento das facções. Algumas delas, como o PCC, surgiram nos presídios, reivindicando melhorias das condições internas. Alianças, cisões e ordens de crimes costumam ocorrer dentro das unidades prisionais. Novos membros, inclusive, costumam ser "batizados" atrás das grades.
Os planos de segurança federais não conseguiram reverter esse problema. Pelo contrário, o número de presos no país não para de aumentar: passou de 232 mil pessoas, em 2000, para 727 mil, em 2016. Já o número de vagas é cerca de metade do total de detentos.
"A estrutura prisional superlotada acaba fomentando a abertura de franquias de facções de mais nome. É como uma cooperativa de crime e proteção", afirma José Vicente da Silva.
Um dos fatores ligados ao alto encarceramento é a política de drogas brasileira. Cerca de um terço dos presos são acusados de tráfico. A minoria, apenas 1 de cada 10 pessoas encarceradas, responde por homicídio.
"Só aumentar a quantidade de presos não adianta, estamos alimentando as facções. Com essa visão, você não apaga os incêndios, mas coloca gasolina. É preciso ver a qualidade de quem está sendo preso - traficantes de armas, homicidas", completa Kopptike.
A maior parte do sistema prisional é gerido pelos Estados. No governo Lula, foram criados os presídios federais, menos lotados e com melhores condições de segurança. No entanto, são apenas quatro, e abrigam uma ínfima parte dos presos - menos de 500.
Fonte: BBC Brasil por Amanda Rossi e Leandro Machado

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

PESQUISADOR DEFENDE TRANSFORMAR DEVASTAÇÃO DO MAR MORTO EM OPÇÃO TURÍSTICA

A retração do Mar Morto é um fato. Cientistas constataram que o desaparecimento tem ocorrido a um vertiginoso ritmo de um metro por ano. E a medida que o mar retrocede, enormes crateras ficam como registro dessa devastação. Atualmente, há um total de 6,5 mil crateras em áreas que uma vez foram parte do Mar Morto.
Por que as crateras se formam?
Os poços são resultado da escassez de água, motivada em grande parte porque os afluentes naturais do Mar Morto estão sendo desviados para fins agrícolas e para a obtenção de água potável, necessária para uma população crescente em Israel.
Outro motivo para a degradação, segundo o governo israelense, tem a ver com a mineração na região.
Algumas organizações ambientalistas atribuem a situação a uma gestão hídrica falha no Oriente Médio, onde a instabilidade política impede o consenso para acordos internacionais que possam frear o retrocesso do Mar Morto.
Quando a água se esvai, uma grande camada de sal, que por milhares de anos ficou protegida, acaba sendo exposta.
E quando o sal se dissolve, o solo pode colapsar sem aviso prévio, gerando as enormes crateras, com até 100 metros de diâmetro e 50 de profundidade.

Lado positivo

Uma equipe da BBC visitou a área e conversou com um pesquisador que estuda esses poços há 17 anos.
Apesar do cenário de devastação, Eli Raz acredita que a situação pode levar a ensinamentos positivos. Ele tem levado grupos para visitações ao local.
"Isso (a crise hídrica) deve servir para que as pessoas conheçam a crise do Mar Morto, para que entendam o que está acontecendo", argumenta.
Raz também acredita que a região possa se beneficiar do interesse de turistas pela incomum paisagem resultante desse fenômeno.
"As pessoas que vêm aqui ficam impressionadas com o cenário. É tão lindo", defende.
Atualmente, apesar da multiplicação dos poços ao redor do Mar Morto, nenhum deles oferece uma estrutura oficial com acesso seguro para visitantes.
Para Raz, disponibilizar uma forma segura de chegar a esses locais seria uma maneira de mostrar ao mundo o que está acontecendo e, além disso, reativar o turismo na região.
Por enquanto, porém, a região só tem colhido os revezes turísticos da tragédia ambiental: nos últimos anos, duas das mais turísticas praias na região e o resort Mineral Beach foram fechados por culpa da retração da água.
Fonte: BBC Brasil